terça-feira, novembro 23, 2010

Sem provas, nem investigação, polícia criminaliza vítima de homicídio

Em momento de profunda dor, como pai, depois de enterrar meu filho assassinado por dois tiros na cidade de Matriz de Camaragibe, vejo que os delegados Belmiro Cavalcante e Socorro Almeida brincam de fazer polícia, na Delegacia Regional de Matriz, conhecido espaço de tortura de jovens pretos e periféricos, com a anuência de ambos e o silêncio de pais temerosos, segurado pelo corporativismo dos dois delegados brincalhões.


Ao justificar a morte do meu filho, a delegada disse ao Cada Minuto que ele “possivelmente era usuário de drogas”. Induz a quem lê a uma justificativa pertinente: morreu, por andar em más companhias, fora do eixo ou dos padrões sociais. A sociedade- zelosa- vê extirpado mais um mal social pela nossa delegada formada nas academias televisivas do CSI Miami.

Funcionária pública, a delegada não cumpre seu dever administrativo. Se meu filho era traficante ou usuário de drogas, porque não estava preso? Um perigo social à solta com conhecimento da Polícia rende um bom exercício de lógica.

É porque a palavra “possivelmente” serve para mostrar a canseira que é o trabalho policial da profissional supostamente ilibada e duvidosamente competente nos plantões de uma delegacia distante da capital e dos olhares da Delegacia Geral da Polícia Civil.

Meu filho foi assassinado uma hora da manhã, do dia 22. Minha esposa e eu estávamos em Maceió. Quinze minutos depois, recebi um telefonema informando que meu filho havia sofrido um acidente e estava morto no Hospital de Matriz. Chegamos ao município no meio da madrugada.

Na burocracia para a liberação do corpo, estive duas vezes na delegacia de Matriz. Sequer vi a delegada. Ela cochilava em sua sala, na sesta das primeiras horas da manhã. E do seu birô, ela inventou a versão “possivelmente usuário de drogas”.

Os agentes do plantão- estes sim fizeram as diligências- me informaram que fizeram buscas atrás do assassino do meu filho e não obtiveram sucesso.

Há quatro anos atrás, capitães do mato do delegado Belmiro Cavalcanti determinaram a prisão do meu filho, então com 12 anos, por ele ter acertado o carro da polícia com uma peteca. Ele foi arrastado pela cidade, algemado, torturado, chamado de “maconheiro” e “ladrão”.

Na delegacia, o delegado Belmiro fez questão de enfatizar a covardia, típica dos bajuladores: fez meu filho ficar preso em uma sala, próxima da cela onde estavam presos. Ele foi acusado de arrombar uma escola. Belmiro mentiu. Meu filho estudava em Maceió e nunca arrombou escolas. Belmiro mentiu de novo. Não era usuário de drogas. Belmiro mentiu de novo. Não era ladrão.

Movi um processo contra o delegado. O Ministério Público Estadual e o Judiciário de Matriz “esqueceram” a ação. Fui chamado de “repórter perigoso”.

Por quatro anos lutei para ajudar um filho atormentado, revoltado com a família, pelo episódio da delegacia, por ele achar que estava quebrada a confiança de pais que o ajudavam nos momentos mais difíceis. E não estavam ao lado dele, na delegacia.

Conselhos e ajudas não foram suficientes. Meu filho apartou várias brigas em Matriz, para ajudar os amigos. Na última delas, ele perdeu a guerra que ele movia contra ele mesmo. Tombou ao chão, com um estampido no ouvido esquerdo e um tiro na barriga.

A versão das drogas fica por conta da Socorro e seus plantões relaxantes e o eterno delegado de Matriz, Belmiro Cavalcante, servidor público com uma carreira incrivelmente fracassada no combate ao crime e a prostituição infantil.



Odilon Rios Lima

Jornalista MTB 840 /AL

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P.S.
Me solidarizo com o companheiro Odilon e sua esposa Ana Cláudia. Ambos são especiais para mim. Sei da dor e, principalmente, do sentimento de tristeza diante dos fatos publicados. Nos colocamos a disposição para qualquer mobilização contra qualquer um que queira "matar" pela segunda vez Alextaine, brutalmente assassinado enquanto tentava por fim a uma briga.
 
Força irmão!

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