Em momento de profunda dor, como pai, depois de enterrar meu filho assassinado por dois tiros na cidade de Matriz de Camaragibe, vejo que os delegados Belmiro Cavalcante e Socorro Almeida brincam de fazer polícia, na Delegacia Regional de Matriz, conhecido espaço de tortura de jovens pretos e periféricos, com a anuência de ambos e o silêncio de pais temerosos, segurado pelo corporativismo dos dois delegados brincalhões.
Ao justificar a morte do meu filho, a delegada disse ao Cada Minuto que ele “possivelmente era usuário de drogas”. Induz a quem lê a uma justificativa pertinente: morreu, por andar em más companhias, fora do eixo ou dos padrões sociais. A sociedade- zelosa- vê extirpado mais um mal social pela nossa delegada formada nas academias televisivas do CSI Miami.
Funcionária pública, a delegada não cumpre seu dever administrativo. Se meu filho era traficante ou usuário de drogas, porque não estava preso? Um perigo social à solta com conhecimento da Polícia rende um bom exercício de lógica.
É porque a palavra “possivelmente” serve para mostrar a canseira que é o trabalho policial da profissional supostamente ilibada e duvidosamente competente nos plantões de uma delegacia distante da capital e dos olhares da Delegacia Geral da Polícia Civil.
Meu filho foi assassinado uma hora da manhã, do dia 22. Minha esposa e eu estávamos em Maceió. Quinze minutos depois, recebi um telefonema informando que meu filho havia sofrido um acidente e estava morto no Hospital de Matriz. Chegamos ao município no meio da madrugada.
Na burocracia para a liberação do corpo, estive duas vezes na delegacia de Matriz. Sequer vi a delegada. Ela cochilava em sua sala, na sesta das primeiras horas da manhã. E do seu birô, ela inventou a versão “possivelmente usuário de drogas”.
Os agentes do plantão- estes sim fizeram as diligências- me informaram que fizeram buscas atrás do assassino do meu filho e não obtiveram sucesso.
Há quatro anos atrás, capitães do mato do delegado Belmiro Cavalcanti determinaram a prisão do meu filho, então com 12 anos, por ele ter acertado o carro da polícia com uma peteca. Ele foi arrastado pela cidade, algemado, torturado, chamado de “maconheiro” e “ladrão”.
Na delegacia, o delegado Belmiro fez questão de enfatizar a covardia, típica dos bajuladores: fez meu filho ficar preso em uma sala, próxima da cela onde estavam presos. Ele foi acusado de arrombar uma escola. Belmiro mentiu. Meu filho estudava em Maceió e nunca arrombou escolas. Belmiro mentiu de novo. Não era usuário de drogas. Belmiro mentiu de novo. Não era ladrão.
Movi um processo contra o delegado. O Ministério Público Estadual e o Judiciário de Matriz “esqueceram” a ação. Fui chamado de “repórter perigoso”.
Por quatro anos lutei para ajudar um filho atormentado, revoltado com a família, pelo episódio da delegacia, por ele achar que estava quebrada a confiança de pais que o ajudavam nos momentos mais difíceis. E não estavam ao lado dele, na delegacia.
Conselhos e ajudas não foram suficientes. Meu filho apartou várias brigas em Matriz, para ajudar os amigos. Na última delas, ele perdeu a guerra que ele movia contra ele mesmo. Tombou ao chão, com um estampido no ouvido esquerdo e um tiro na barriga.
A versão das drogas fica por conta da Socorro e seus plantões relaxantes e o eterno delegado de Matriz, Belmiro Cavalcante, servidor público com uma carreira incrivelmente fracassada no combate ao crime e a prostituição infantil.
Odilon Rios Lima
Jornalista MTB 840 /AL
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P.S.
Me solidarizo com o companheiro Odilon e sua esposa Ana Cláudia. Ambos são especiais para mim. Sei da dor e, principalmente, do sentimento de tristeza diante dos fatos publicados. Nos colocamos a disposição para qualquer mobilização contra qualquer um que queira "matar" pela segunda vez Alextaine, brutalmente assassinado enquanto tentava por fim a uma briga.
Força irmão!
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