terça-feira, fevereiro 12, 2019

O dia em que, por telefone, falei com Boechat


 Boechat com Rodrigo Scarpa, o "Vesgo", para o
Programa Pânico da Band
Nunca desejei tanto que um fato fosse fake,  quanto o da morte do jornalista Ricardo Boechat. Quando o colega Rafael Maynart deu a notícia na redação (segunda 11 de fevereiro), ainda disse-lhe que se fosse de zap não acreditasse.

Mas era verdade. Boechat deixara esse plano espiritual para entrar para a eternidade e a história do jornalismo brasileiro.

Desde a segunda, à tarde, até o momento em que escrevo este texto só tenho ouvido relatos, causos e histórias legais, algumas contadas pelo próprio Ricardo.

Depois de passada a tristeza que marcou o dia anterior, até é possível rir de suas piadas, diga-se de passagem, de muito bom gosto e com um traço claro de seu bom humor.

Foi aí que decidi escrever sobre o dia em que falei com ele ao telefone.

O contato foi feito por seu amigo de Band, a época, o também jornalista Arnaldo Ferreira, o "Papagaio". Durante uma breve conversa sobre futebol, Ferreira sabe que sou botafoguense, e jornalismo decidiu ligar para o Boechat.

Não tocou nem três vezes e ele antedeu.
Educadamente falou com Arnaldo e em seguida ele disse:

-Ó, vou te passar para outro colega jornalista de jornal e rádio. E o principal é teu fã. É o Marcos Rodrigues, o Tchola.

Em seguida me passou o telefone.

Eu:-Alô, Boechat, um prazer falar com você.
Do outro lado, com voz calma:
Boechat:-Da mesma forma companheiro. Mas, me diz uma coisa e esse nome que ele falou no final é seu mesmo?
Perguntou como muitos que ouvem meu apelido pela primeira vez.
Eu:-Não, é apelido. Mas é o caso do apelido que às vezes supera o próprio nome.(risos)
Então decidi tomar a inciativa da conversa breve.
Eu:-Mas e aí, quando vem a Alagoas, para às praias de Maceió.
Boechat:-Olha já fui até Salvador, quem sabe da próxima vez.
Eu:-Pois é, venha, o Arnaldo tem uma casa praticamente à beira mar, em Garça Torta.
Disse-lhe entregando o esconderijo do Arnaldo.
Boechat-Ah, que legal! Isso ele nunca falou.
-Mas, quer dizer que você é alagoano e torce para o Botafogo?
Aí, contei rapidamente que era filho de um Manoel (meu pai) já falecido que, ainda por cima tinha um leve defeito na perna (não igual a do Garrincha, mas aquele que uma era mais curta que a outra) para justificar a fixação de papai pelo Mané.
Me lembro que ele riu um pouco sai com essa.
Boechat:- De fato não tinha jeito para essa sua cina. Mas, futebol é uma paixão em qualquer lugar.
Eu:- Vou devolver para o Arnaldo. Foi um prazer falar contigo. Grato pela atenção!
Boechat: Ah, que bom falar com alguém que gosta de futebol e jornalismo. Gosta de sofrer com os dois (risos)

Então nos despedimos.
Me lembro que fiquei horas lembrando de como tinha sito aquilo, primeiro agradecendo o Arnaldo e ele enfatizando que o Boechat era simples, amigo dos profissionais e gostava de material quente, investigativo.

Hoje, assim como naquele dia a emoção voltou um pouco. Pena que jamais terei condições de retomar a conversa iniciada, nem pessoalmente, nem de forma presencial.

Ateu convicto, talvez Boechat até ache piegas o que vou escrever. Mas, o incluirei em minhas orações. Acho que boa parte de seus ouvintes, pelo menos os cristãos, também o farão.

Será mais um gesto de amor e carinho, semelhante ao dos taxistas que fizeram até carreata para homenageá-lo.  

quinta-feira, fevereiro 07, 2019

Lula Nobel, mas sem paz

No auge da popularidade Lula costumava ir para os braços do 
povo quando estava sendo bombardeado na mídia
                                                                                         Foto: Ricardo Stuckert


Lula vive seu pior momento político. Preso, sem contato com o povo, impedido até de ir ao velório do irmão. Viúvo, órfão das ruas, se comunica por bilhetes quando recebe a visita de advogados e parentes.

Mas, do lado de cá, um movimento liderado pelo Prêmio Nobel da Paz, em 1980, Adolfo Pérez Esquivel, já conta com 400 mil assinaturas, entre elas a de muitos notáveis.

A coleta é feita pela plataforma change.org A ideia, na verdade, é para formalizar a candidatura de Lula. Quem puxa o coro é o Comitê Internacional em Defesa de Lula e da Democracia no Brasil.

Ou seja, há um enredo que pode expor sua prisão como parte de um plano para eliminá-lo da política por conta de suas ideias e ações em defesa do povo. E aí são citados vários dos índices sociais que em seu governo foram elevados por conta dos investimentos.

Nesse contexto, para os petistas, o fato dele continuar atrás das grades e ter proibida sua saída no mês passado lhe favorece, já que teve a situação exposta em nível internacional.

Mas, tem um detalhe que acho que faz a conta -"dos companheiros" - não fechar, nem aqui e nem fora.

É inegável que Lula mudou o raio x da miséria do país. Isso é histórico está nos anais da humanidade e ninguém vai tirar. Muitos foram o que sobreviveram e mudaram de classe social, além de conquistar casa, acesso à escola e universidades.

Corrupção

Mas, e a questão da corrupção do governo? As indicações de nomes como Delcídio do Amaral, Ricardo Duque...entre outros que entraram na estrutura petista para atuar junto a Petrobras.

Delcídio entrou no partido, em São Paulo, depois que o PT do Mato Grosso em suas instâncias municipal e estadual disseram não, por saber que era PSDB e queria apenas se beneficiar. Sabem que o filiou? O Zé Dirceu. Com qual objetivo?

No caso do Duque, o Sindpetro do Rio (cutista e portanto, ligado ao partido) já o denunciava antes mesmo do PT se tornar poder.

Além disso, por que Lula, quando estava no auge da popularidade ao invés de indicar um petista de origem (e existiria tantos nomes para citar) optou por Dilma, que nasceu politicamente no PDT e não tinha um décimo de sua capacidade de articulação?

Outra coisa: O PT que depois acusou a Globo de tê-lo fritado publicamente, deixou nas mãos de Antônio Palocci o "perdão" para a emissora e renovou sua concessão pública.

Aliás, foi a gestão que mais repassou dinheiro para a empresa.

Mais

Outra coisa que me deixa intrigado é porque mesmo contra seus delatores, Léo Pinheiro (ex-OAS) e Marcelo Odebrecht, Lula não partiu para o ataque. Ao estilo Lula com raiva e força.

Ao invés disso, o que vimos foi um Lula que responsabilizava sua ex-companheira e ex-primeira Dama, D. Mariza Letícia.

Reflito aqui sobre questões que ninguém do PT e simpatizantes não gostam de discutir. Mas, o faço não mais para desmoralizar ou achincalhar Lula, mas sim para que reflitamos.

Este mês o PT completará 39 anos de existência. Foi o partido que mais filiou pessoas nos últimos meses. Agora são quase 11 milhões de filiados, sendo 2,5 milhões de pessoas entraram no partido durante sua maior crise.

Logo, é fundamental que esse "novo" PT que pode ou deve surgir tenha claro que passos e quais passos serão dados para ser oposição e alternativa de poder.

Vale lembrar que antes de tudo isso, também, seria importante uma autocrítica pública, depois de discutida internamente.

Lembreme-nos do que Mano Brown falou na campanha do Haddad.