terça-feira, agosto 31, 2010


Quando era estudante de jornalismo, há treze anos atrás, ouvi um professor dizer em sala que a "Revolução Digital" colocaria em risco as edições impressas. Isso valia tanto para jornais quanto para revistas. Me lembro que o mestre Edson Falcão, professor de Impresso I, dizia que isso iria demorar muito para acontecer. "Algo em torno de 50 anos talvez", especulava.


Mas, o tempo foi mais rápido. Como tudo depois do computador. A primeira vítima da dita revolução é o Jornal do Brasil que sobreviveu por 119 anos. Ironicamente o JB foi primeiro dos impressos a ter uma edição inteiramente digital ( O JB On Line). Nos anos 90 o jornal chegou a circular com 260 mil exemplares aos domingos. Atualmente, circulava com 30 mil exemplares, mas já não tinha suas edições auditadas oficialmente.

Hoje, dia 31 de agosto de 2010 circulou a última edição impressa do velho Jornal do Brasil. O veículo que entrou para a história como o que mais enfrentou a ditadura militar existirá apenas no mundo virtual, ou em tempo real. Só que na real, enquanto algo tocável sumirá. É do JB a capa mais contundente contra a edição do Ato Institucional nº 5 que sensurou a imprensa. O Seu editor a época, jornalista Alberto Dines, teve a coragem de publicar uma mancha negra no lugar da foto e colocar a previsão do tempo com um texto enfocando o mal tempo, numa referência aos militares.

E agora?

Será que essa vai ser uma tendência dos demais? Como no jornalismo, nada se cria e tudo se copia, é possível que outros grandes, médios e, principalmente, os pequenos veículos também sucumbam a nova tecnologia.

Depois de ter sido aluno, também tive a chance de ser professor. Já abandonei as salas de aula há quatro anos, mas mesmo antes meus ex-alunos já não mantinham relações com os jornais.

Creio que muito além do problema financeiro que cerca as empresas, é a cultura que mudou. As pessoas estão sendo muito mais seduzidas pelas novas tecnologias. Hoje é possível ler um jornal pelo celular, note e netbooks. Ninguém quer mais sujar as mãos ou andar com papel embaixo do braço.

Em minha vida ainda coleciono matérias escritas. Como ainda trabalho em jornal, faz parte da minha realidade. Mesmo assim, depois de um ano, normalmente nas limpezas de fim de ano, parte de meus arquivos vão parar no lixo, ou nas mãos de algum catador.

Pois é, até comigo que vivo de papel impresso ele, aos poucos vem se tornando um peso. Que fenômeno é esse.

Uma de minhas filhas, a de três anos, adora ficar diante do computador. Não sabe ler, nem escrever, mas já tem uma postura correta de sentar diante da máquina. Mexe no mouse, bate nas teclas e fica vidrada na tela. Para ela é tão natural como se alimentar. Vendo sua evolução percebo que já não crescerá com o hábito de tocar no papel. Aliás, só o faz para cumprir tarefas da escola. Além disso, simplesmente não se interessa, nem pelas fotos.

Enfim, a revolução que falavam para mim no passado está diante de meus olhos. Estou inserido nela sem me sentir revolucionário. Sou mais um, talvez o menos empolgado, mas tão dependente quanto todos os outros "revolucionários" ou diria: consumidores. 

3 comentários:

Notícias coisas e tal ........... disse...

Muito interessante o texto, pensavamos que o fim do jornalismo impresso talvez não acontecesse de fato, e hoje a realidade é outra, exemplo disso é o fim do JB e sua nova versão on line muito bem colocado no blog. O JB entra pra história como sendo o primeiro jornal impresso que passou a ter um formato inteiramente digital. Acredito que essa iniciativa abra caminho para que outros jonais de peso sigam essa tendência.

Sucesso!

Marcos Rodrigues disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Adriana Cirqueira disse...

O hábito "jurássico" comprar o jornal de manhã, junto com o pão (ambos, "nossos de cada dia"), vai acabar? Também falaram a mesma coisa sobre o livro, e hoje o livro e o e-book co-existem. Cada um tem seu público específico. Mas não há como negar que coisas assim acontecerão cada vez mais. O legal é a eternidade do mundo digital. O documento estará sempre disponível, ao ancance de um click.
Adorei o texto. Leve e informativo. No clima da web ;-)