quinta-feira, junho 17, 2010

Ressureição e morte no HGE

Pelo título parece que vamos falar de algo ficcional. Mas, não é. Ouvi com espanto a notícia de que uma mulher, Divacir Cordeiro dos Santos,  60 anos, que havia sido considerada morta se mexia no necrotério. O fato foi registrado no Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió, Alagoas.

Mesmo dentro do invólucro para transporte de corpos (de plástico), ela voltou a respirar e ter espasmos. O funcionário do lugar, um herói para mim, teve a sensibilidade de perceber o erro grosseiro dos profissionais de saúde e pediu ajuda.

Se ele tivesse considerado que era um fenômeno comum a corpos/pessoas altamente medicadas-como tentaram explicar algumas autoridades, Divacir morreria a míngua, só que desta vez no necrotério.

A vítima do descaso foi resgatada e levada para as máquinas de terapia intensiva. Resistiu bravamente até as 3h madrugada, na UTI e morreu, desta vez de verdade. Desde que voltou a ser internada ela apresentava um quadro grave.

Mas, fica a pergunta: será que (ele o estado) não foi agravado justamente pelo fato de ter ficado sem assistência e com dificuldades para respirar quando estava na pedra?

O episódio que deixou estarrecida a família e indignado- quem ainda consegue se indignar- repercutiu nacionalmente.

Não é a primeira vez que o pronto socorro ganha as manchetes. Faz parte do leque de grandes pautas permanentes do jornalismo - denúncias envolvendo o hospital. Os médicos já denunciaram várias vezes. Os enfermeiros e técnicos em enfermagem , também.

Todos já sabemos que há pessoas no chão, próximo ao lixo, em macas, sem higiene e espalhados no corredor. Isso não é mais novidade. O problema é antigo e parece não ter solução, a não ser que o Executivo bata forte nos municípios para que instalem hospitais dignos de atender a população.

Mas, qual governante vai bater de frente com os municípios, se é de lá que saem os votos que lhes garantem o poder?

A morte e ressurreição desta mulher é mais uma prova de que a vida vale muito pouco para o Estado. Sobreviver depois de cruzar os muros é um desafio. Fica nas mãos de Deus e de alguns abnegados funcionários o final feliz da maioria das pessoas.

É necessário que esse caso seja punido exemplarmente antes que nossas esperanças morram e, o pior, não ressuscitem mais. Não dá para agir tucanamente neste caso. Já produzimos, para o país, a manchete mais incrível de minha carreira até agora: "Mulher morre duas vezes no HGE".

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