quinta-feira, junho 10, 2010

O príncipe etíope criador da paradinha e da folha seca



Como falar de Garrincha sem falar do príncipe etíope, Didi. O mestre do meio campo dava passes magistrais para o Mané na direita. Depois ficava rindo do que o nosso gênio das pernas tortas fazia com os adversários.

Didi foi um jogador que teve uma enorme sintonia com a torcida do Botafogo. Na seleção sua postura em campo lhe rendeu elogios e o reconhecimento como o melhor atleta da Copa de 1958, a primeira conquistada pelo Brasil.

Em tempos de Copa da África como não falar de nosso ídolo negro capaz de realizar proezas como  cobrança de falta em que a bola fazia uma leve curva e caia no canto do gol. O movimento ficou mundialmente conhecido como "folha seca".


O mestre Didi, quando foi campeão pelo Botafogo em 1957 em cima de seu ex-clube (Fluminense) seguiu apé do Maracanã até sua casa. Ao lado de sua segunda esposa Guiomar era cumprimentado e abraçado por torcedores em todo o trajeto.

Como diz o repórter Lelo Macena, Gazeta de Alagoas, "Didi foi um poeta da bola".

Lei mais no texto abaixo do brilhante jornalista Roberto Porto.

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Causos e acasos do Roberto Porto

A briga entre Didi e Telê Santana



Nasci na Casa de Saúde José, logicamente em Botafogo – a 300 metros de onde o Botafogo Football Club foi fundado, no Largo dos Leões. Logo depois, fui morar na Urca, até que meus pais preferiram se mudar para as Laranjeiras. E foi em Álvaro Chaves, onde ia com freqüência, que tomei conhecimento da doce figura de Valdir Pereira (1928-2001), o famoso Didi, a partir de 1949. Tempos depois, comecei a cortar cabelo numa barbearia da Rua Ipiranga, integrada apenas por campistas como Didi. Lá nos encontramos várias vezes porque ele, igualmente campista, prestigiava seus conterrâneos. Mas Didi era jogador do Fluminense e eu, com a Estrela Solitária no coração, não dava muita bola para ele. No máximo, cumprimentava. Foi em 1956, quando deixou o Tricolor que ele se tornou meu ídolo, não apenas no Botafogo como na Seleção Brasileira.




Quis o destino que só a partir de 1999, passasse a ter contato direto com aquele que se tornou famoso como O Homem da Folha Seca. Graças ao companheiro Elso Venâncio, na época na Rádio Globo, participei várias vezes do programa comandado por ele, antes dos jogos no Maracanã. Por essa época, Didi era uma sombra do que fora. Movimentava-se com extrema dificuldade, atormentado por uma incurável dor na coluna vertebral. Mesmo assim, conversamos muito, fora do ar, e lhe dei de presente uma foto de meu arquivo particular. Nela, depois da conquista do título de 1957, Didi, ainda uniformizado, caminhava com a mulher Guiomar (na foto com Didi, depois da conquista de 1957, o craque ainda uniformizado), na esquina da Rua Farani, cercado de pequenos torcedores.

Ele ficou emocionado e só me disse uma frase:

– A madame vai colocar essa foto em cima do piano lá de casa...

Pouco depois, encontrei com ele no Maracanã em cadeira de rodas. Fiquei chocado. Meu craque, meu ídolo, já não mais caminhava. E logo me apresentei para ajudá-lo, empurrando a cadeira pelos longos corredores do Maracanã. Foi quando juntou-se a nós, de repente, nada menos do que Luiz Vinícius de Menezes, o Leão, que o Botafogo vendera ao Nápoles em 1955. Fomos conversando, Vinícius com o maior sotaque italiano e puxando da perna, em razão de uma antiga contusão. Em dado momento, Didi cochichou a meu ouvido uma revelação inacreditável:

– Jogar com esse aí era fácil... Bastava meter uma comprida para ele...
Didi, coitado, já estava misturando as estações. Quando chegou ao Botafogo, fazia um ano que Vinícius era ídolo do Nápoles e os dois jamais, em tempo algum, haviam atuado juntos pelo Botafogo. Mas Didi, apesar dos pesares, ainda se recordava da troca de pontapés com o amigo Telê Santana (1931-2006), exatamente no círculo central do Maracanã, sem que o árbitro percebesse. Era a final do Campeonato Carioca de 1957 e o Botafogo acabara de colocar 4 a 1 no placar, com um sensacional gol de Paulo Valentim (1932-1984) que deixou Pinheiro sentado no gramado. Telê, segundo Didi, o chamou e a Nílton Santos e disse algumas poucas palavras:



– Olha, vocês já são campeões, parabéns, mas digam ao Garrincha (1933-1983) para encerrar o carnaval que ele está fazendo com Clóvis e Altair...

Didi e Nílton Santos nem chegaram a falar com Garrincha, até porque sabiam que ele não daria a mínima bola para a advertência. Resultado: Garrincha marcou o quinto gol e deu o sexto para Paulo Valentim assinalar a maior goleada até hoje em decisões de campeonatos cariocas (6 a 2). E foi por isso, por causa do baile e da goleada, que Didi e Telê se estranharam.

Dois anos depois dessa conversa, na Rádio Globo, Didi deu adeus à vida.



Saudações Botafoguenses,

Roberto Porto




portoroberto@uol.com.br

Um comentário:

Iuri Iacona disse...

Como o Brasil é rico em produzir jogadores fantásticos. Sem dúvida, inigualável.